Hoje faz duas semanas que ela se
foi. Ainda sinto engasgado o choro que tive que engolir – e ainda engulo. Hoje
faz duas semanas que não vejo o movimento calmo e suave dos seus cílios,
contrastando com seus olhos castanhos e logo insinuando um sorriso malicioso.
Mirar seus lábios me enchia de água na boca, mirar seus olhos me excitava.
Enquanto percorria seu corpo suavemente com a ponta dos dedos, podia sentir
seus pelos ouriçados, e essa reação me fazia bem. Mas ela se foi. Levo quinze
dias revivendo memórias, levo quinze dias no passado, estagnado. Foi-se, já
era. Não voltarei a ver seu corpo dançando livremente enquanto preparava o café
da manhã e nem seu cabelo despenteado de tanto nos revirarmos na cama. O lençol
já não carrega seu perfume, e o cobertor – que já foi telespectador de momentos
fervorosos – já não é objeto de disputa entre dois corpos estirados na cama. A
gaveta do aparador já não esconde seus pijamas e sua escova de dente não
repousa junto à minha. Ao lado da cama agora só o retrato. Sim, ela se foi.
Suas mãos não mais tocarão as minhas. Seu olhar não mais se cruzará com o meu,
e sua boca não sentirá o calor da minha. Não mais. Lá fora o sol brilha, mas me
falta o ânimo da admiração. Minhas mãos inutilmente buscam as suas enquanto repouso
a cabeça sobre o travesseiro. Fecho os olhos. Viro meio copo de whisky. Jogo os
braços para o lado oposto da cama e automaticamente procuro seu corpo: ele não
está. Um ciclo vicioso que não acaba nunca, uma corrosão interior que mata
lentamente. Tudo porque você se foi – e infelizmente não voltará.
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