terça-feira, 26 de maio de 2015

Ela se foi

Hoje faz duas semanas que ela se foi. Ainda sinto engasgado o choro que tive que engolir – e ainda engulo. Hoje faz duas semanas que não vejo o movimento calmo e suave dos seus cílios, contrastando com seus olhos castanhos e logo insinuando um sorriso malicioso. Mirar seus lábios me enchia de água na boca, mirar seus olhos me excitava. Enquanto percorria seu corpo suavemente com a ponta dos dedos, podia sentir seus pelos ouriçados, e essa reação me fazia bem. Mas ela se foi. Levo quinze dias revivendo memórias, levo quinze dias no passado, estagnado. Foi-se, já era. Não voltarei a ver seu corpo dançando livremente enquanto preparava o café da manhã e nem seu cabelo despenteado de tanto nos revirarmos na cama. O lençol já não carrega seu perfume, e o cobertor – que já foi telespectador de momentos fervorosos – já não é objeto de disputa entre dois corpos estirados na cama. A gaveta do aparador já não esconde seus pijamas e sua escova de dente não repousa junto à minha. Ao lado da cama agora só o retrato. Sim, ela se foi. Suas mãos não mais tocarão as minhas. Seu olhar não mais se cruzará com o meu, e sua boca não sentirá o calor da minha. Não mais. Lá fora o sol brilha, mas me falta o ânimo da admiração. Minhas mãos inutilmente buscam as suas enquanto repouso a cabeça sobre o travesseiro. Fecho os olhos. Viro meio copo de whisky. Jogo os braços para o lado oposto da cama e automaticamente procuro seu corpo: ele não está. Um ciclo vicioso que não acaba nunca, uma corrosão interior que mata lentamente. Tudo porque você se foi – e infelizmente não voltará.


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