sexta-feira, 24 de julho de 2015

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A tarde vai caindo junto com a chuva. Cada gota chega ao solo com força, e com igual força o céu torna-se negro. Ela se senta em sua varanda e sente o cheiro que paira no ar. Os carros passam velozes; os poucos pedestres que sobraram correm em busca de abrigo para seus corpos; os cachorros acompanham os humanos, mas estes se divertem mais com a água que cai. Os pássaros, lentamente, param de cantar. A chuva parece aumentar, assim como o vazio que invade não só a cidade, mas também seu coração. Levanta-se, ignorando o celular que toca incansavelmente, e vai encher seu copo. Enquanto a bebida entra, prepara sua mente para a noite que vai chegar, na qual será forçada a despedir-se de quem se ama. Despedidas nunca são fáceis, por mais comuns que sejam. Comuns porque sempre temos que fazê-las e, ainda assim, nunca aprendemos bem como. É aquela vontade de querer aproveitar cada minuto e sair da despedida sem o gosto de ‘quero mais’, mas nós, meros mortais, raramente somos capazes disso: não sabemos aproveitar minutos com total exclusividade, pois sempre colocamos sentimentos pessimistas em torno de tudo. É incomum saber de momentos em que pessoas realmente souberam disfrutar, e as despedidas são sempre assim – não sabemos o que fazer. É aquele velho desejo de querer abraçar a pessoa – ou até mesmo o lugar – e guardá-la intacta em um pote. Não queremos saber de mudanças, não queremos términos: fugimos disso e esquecemos que, para que algo novo comece, o velho precisa estar acabado, e isso tudo são modificações que nos marcam – e nem sempre para o bem. Porém, é preciso ter consciência de que tudo nessa vida é efêmero, e o que hoje está vazio, amanhã já estará cheio. Seja seu coração, seja sua mente, seja seu ânimo. Sabendo disso, terminou o que estava em seu copo. A chuva cessou. As nuvens espaireceram-se e estrelas começaram a iluminar a noite. Pássaros voltaram a cantar, assim com a certeza de que tudo é nosso, volta - ou nem sequer se vai. 

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