São sete horas da manhã e o
despertador me lembra de que está na hora de levantar. Coloco as pantufas que
estão ao lado da cama e caminho até o banheiro. Abro a torneira – a água está
gelada, por mais que seja inverno – e lavo o rosto. Minha cadela ainda não
levantou da cama, o que acaba me dando inveja. Passo um olhar por toda a casa e
percebo que estou só, e isso me deixa mais à vontade. Preparo meu café com
calma enquanto vejo as notícias que abalaram o país na noite anterior: polícia
mata bandido, bandido rouba posto de gasolina; policial é preso por traficar
droga, assassino é solto por bom comportamento; engarrafamento provoca acidente
e deixa quatro feridos e dois mortos. Decido desligar. Caos. Minha cabeça
começa a disparar rajadas de dor, por isso aproveito para tomar um comprimido
para poder trabalhar bem. Tomo o café vendo desenho animado, e logo em seguida
coloco meu uniforme e vou até a parada de ônibus. Chego atrasada, e ainda assim
me informam que mais atrasado do que eu, está o motorista. Doze minutos depois,
entro no ônibus. São oito e meia da manhã e o trânsito já está infernal. Desço
na parada apropriada para pegar o próximo ônibus – o trabalho é longe. Mais
vinte minutos de atraso, e o automóvel está, literalmente, cuspindo pessoas
para fora. Enfim, chego ao trabalho: atrasada, mas chego. O chefe me olha de
cara torta e me chama pra conversar mais tarde. “Já fiz merda”, penso eu. Entro
em meu gabinete e observo uma companheira juntando as coisas – foi demitida.
Aliás, isto aqui está mais para um campo minado: cada dia uma demissão estoura
em lugares inesperados – funcionários antigos, funcionários que necessitam
disso para sustentar quatro bocas ou mais, e funcionários desiludidos, como eu.
Pra mim, tanto faz, tanto fez. Está tudo péssimo e isso aqui não é o que quero
pra minha vida, mesmo. “Tomara que me mandem pra rua mesmo”. Faço meus
relatórios, almoço, e espero do lado de fora da sala do chefe. Eu entro e ele
me elogia, o que me pegou de surpresa. Esboço meu primeiro sorriso do dia – às
duas da tarde. Quando dou conta disso penso na grande ironia da vida, e o pior
é saber que há pessoas que sorriem mesmo sem motivo. Começo a crer que sou
ingrata. Decido sorrir para todos quando saio da sala. Sorrir, apenas. Noto que
as pessoas sorriem de volta, e isso torna a tarefa mais fácil. Fico contente.
Saio do trabalho, entro no ônibus – que chegou atrasado. A noite já começou a
cair. Sorrio para o motorista e para a mulher que está ao meu lado. Na parada
seguinte faço o mesmo. Sorrio para as pessoas e elas sorriem para mim. Percebo
que minha dor de cabeça não voltou. Entro em casa, estou sozinha outra vez.
Olho para o espelho e sorrio. E apesar da negatividade do dia, sinto-me bem,
sinto-me em paz. Embora sorrir não seja uma solução para os problemas da vida,
bobo é quem não o usa como analgésico...
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